sexta-feira, 16 de julho de 2010

Teatro: Até que Ponto Cia Teatro + Gogól = O Inspetor Geral (Vale o risco!)

E vamo que vamo, na pilha... no final dos semestres os alunos de artes costumam fazer apresentações de suas montagens, são os experimentos para que na montagem final ( a de conclusão de curso) tudo saia o melhor possível!

Há 3 anos vejo pelo menos uma dessas montagens semestrais (geralmente tem mais de uma peça por turma) e costumo me identificar, as peças realmente me tocam! Uma vez assisti uma que se chamava “Vitor”, a peça era muito linda, lembro que fiquei emocionada e na boa, não pareciam estudantes, bom, mas voltando... sou muito suspeita pra falar (já que minha prima atua nessa e já que meu caso de love com esse tipo de trabalho é descarado)rs, mas vamos aí!

Nesse semestre a montagem do grupo Até que Ponto Cia de Teatro, turma 07 da Unicamp, foi O inspetor geral. Diversificando de todas as outras montagens que eu havia assistido, essa surpreendeu primeiro por ser comédia (na verdade satirizada) e ponto, normalmente as peças são super viajadas, pra você ficar horas questionando um dado; não que os questionamentos não vieram e que não viajei no tempo com a história e à tenha visto na atualidade, mas o fato de tudo isso acontecer e você rindo e se divertindo, amenizaram as duas horas e quarenta minutos de peça... isso mesmo, um cadinho longa, mas valeu e muito!
Bom, vamos a história né!? (A só para constar, a peça contava com 12 atores que faziam “n” personagens... Seguinte, a história se passa em uma pequena cidade/povoado/vilarejo/província (ou seja lá como queiram chamar) onde o Governador utilizava de seu poder para obter benefícios no comércio da cidade e fazia tudo na “maciota” (desvios de verba e conduta, abuso de poder, enfim...), junto com ele outras pessoas (como: delegado, médico, professora...) também utilizavam de seu cargo/poder para conseguir esses benefícios, mas todos surtam quando ficam sabendo que a província receberá a visita de um inspetor geral, que relatará tudo que está em desacordo ao rei. Paralelo a isso temos vários personagens que vão ajudando na construção da história e dando o lado cômico da peça. Enfim, eles tentam tapar os “buracos” existentes na cidade interiorana e fazer de tudo para agradar o tal inspetor, porém acontece um probleminha, acabam confundindo o inspetor e eles que tentavam enganar, acabaram sendo enganados por um mimado, que havia perdido todo seu dinheiro no jogo, mas tinha muita pinta de duque. (Queria muito lembrar o nome dos personagens, mas além de serem longos, acho que tinham uma raiz alemã com railavasanviski, entende? rs mas ajudavam e muito no contexto).

Tapar o sol com a peneira, abuso de poder, julgar pela aparência, valorizar a cultura do outro mais do que a própria, preconceito de diversas formas, política, fidelidade (ou melhor, a infidelidade de todos na cidade), simplicidade (também foi abordada com os personagens dos empregados da casa)...

Essas foram apenas alguns dos tópicos que foi possível repensar com a peça. Sei que é um absurdo resumir tanto a peça, mas acho que todos devem assistir para tirar suas próprias conclusões).

Ah, e qualquer semelhança da história com a atualidade, é mera coincidência tá? rs

Então, quando cheguei em casa pra procurar uma imagem para ilustrar o post, vi que tinha o resuminho da divulgação... segue:

“A sátira é uma lição, a paródia é um jogo”. (Nabókov)

Ao longo do processo abordamos a peça através de “jogos teatrais”. Como é jogar cada situação proposta pelo texto e através da compreensão desta, descobrir novos jogos? O jogo deve ser divertido e verdadeiro, é gerado pelo que acontece em cada momento e seu alimento é a espontaneidade. Como vem do espaço exige do “ator-jogador” alenção, disponibilidade e gosto por querer aproveitar cada oportunidade. A oportunidade é um verdadeiro presente, mas não significa que o jogador deva ser oportunista, há uma diferença fundamental entre essas duas coisas. Nesta peça de Gogól nenhum personagem é salvo, são oportunistas no meio em que vivem. A cidade está fadada ao descaso e a corrupção. (Uma situação muito próxima e conhecida por nós brasileiros nestes tempos que correm).

Montar “O inspetor geral” nos coloca de frente com estas questões e muitas outras. Quando somos nós mesmos oportunistas? E a nossa própria corrupção? Quando nos vendemos? Etc. Sentimos que a sátira aponta o problema para fora de si, ela está nos outros. O jogo nos mostra a condição humana, gostemos ou não do que vemos. A proposta é encontrar outras dimensões para nossa real situação e jogar com o que temos, se o jogo nos possibilitar descobertas verdadeiras e for divertido. Vale o risco.

imagem: divulgação

Nenhum comentário: